Continuando nossa série Linha do Tempo, que organiza filmes históricos em ordem cronológica, chegou a vez da obra 10.000 a.C. Segundo sinopses e materiais de divulgação, este é um filme épico, que mostra a jornada de um herói na época pré-histórica para salvar sua amada. Mas será que vale a pena assistí-lo? Ele de fato é um filme épico marcante? Com um nome remetendo a um período pré-histórico, ele é fiel a história real? Descubra as respostas neste artigo!
Sinopse do filme
Ao procurar a sinopse desse filme, me surpreendi com as variações. Para mim, uma boa sinopse é aquela que resume bem a ideia do filme, deixando a pessoa com vontade de assistí-lo, porém sem entregar muito. Muitas sinopses desse filme encontradas na Internet não atendem a isso. Ou são muito superficiais, ou pouco motivantes, ou possuem pouca ou nenhuma coesão entre o nome do filme e sua trama. Assim, vamos apresentar uma versão um pouco melhor:
“No passado pré-histórico, D’Leh é um caçador que pertence a uma tribo de caçadores de mamutes. Quando sua tribo é atacada por guerreiros, eles capturam sua amada, Evolet, junto com homens de sua tribo, fazendo D’Leh embarcar em uma jornada para salvá-los.”
Dito isso, vamos analisar o filme.
Contextos
Contexto Histórico
Um primeiro comentário relevante é sobre o termo pré-história. Esta palavra é usada para remeter ao período compreendido entre o surgimento dos primeiros seres humanos (considerando seus antepassados) e o início da escrita, por volta de 3.500 a 3.000 a.C (antes de Cristo). A premissa dos historiadores é a seguinte: sem escrita, não há história. Assim, o ano de 10.000 a.C. está no período chamado de pré-história.
Nesse período existiam grupos nômades, que vagavam pelas terra em busca de alimento, sendo a caça a principal atividade. Logo, não haviam grandes civilizações, bem como existem poucos registros realmente precisos do período, o que talvez tenha feito o diretor do filme aguçar seu lado criativo, mesmo que pouco fiel ao que sabemos daquele período.
Gafes Históricas e Geográficas
Aliás, já adiantando uma crítica, o filme escorrega bastante na parte histórica. Ele é confuso, trazendo homens fazendo fogo (que, pelo registros, começou por volta de 7.000 a.C), bem como cabelos e vestimentos muito modernos para época. O protagonista possui dreads no cabelo! Enquanto a protagonista, tem pernas e axilias depiladas. Os homens que atacam a tribo de D’Leh possuem cavalos domesticados, bem como, no meio para o final de filme, mamutes aparecem domesticados. Ambos as cenas são incosistentes com o período. O filme também traz uma grande civilização, parte embasada nos zigurates mesopotânios (que foram construídas por volta de 5.000 a.C), parte nas pirâmides egípcias (que foram construídas por volta de 3.000 a.C).
Geograficamente, o filme também é bem confiuso. Ele começa em montanhas na neve, depois, andando a pé, passam para uma floresta tropical e, logo depois, um grande deserto. O filme sugere se passar na África, perto do Rio Nilo, mas tem um tigre dente-de-sabre, que só existiu nas américas.
Adicione a essa lista incosistências objetos como: garrafas de água, mapas, compassos, régua e um telescópio! Além de grandes barcos a vela.
Assim, dá para dizer que, no aspecto histórico, o filme conta com bastante anacronismo, pois começa com uma caracterização parcialmente adequada para 10.000 a.C. e depois se perde totalmente.
Contexto dentro da série Linha do Tempo
O primeiro filme da nossa série foi 65 – Ameaça Pré-Histórica, que se passa há 65 milhões de anos atrás, no período em que os dinossauros foram extintos da Terra. Depois disso, temos uma grande hiato de filmes e, o próximo deles, é este, 10.000 a.C. Desconhecemos outro filme que traga um período entre esses dois filmes. De qualquer forma, no momento (conforme nossas pesquisas avançam, outros filmes podem ser analisados e introduzidos, em ordem, na série), esses dois são os únicos filmes do período pré-histórico.
Diferentemente de 65, um filme que remonta uma época muito mais distante, em 10.000 a.C. temos retratado os grupos nômades e um importante passo para o nascimento das civilizações – o surgimento da agricultura (nos últimos minutos do filme).
E aí, sabe dizer qual será o próximo filme da nossa série?
Crítica do filme 10.000 a.C.
Sendo objetivo: não gostei do filme. Mas vale a pena assistí-lo? Para mim, não vale. Contudo, dá para apontar seus principais contras e comentar sobre seus poucos destaques .
Pontos Negativos
Naturalmente, o assisti como parte do trabalho da série Linha do Tempo, mas logo nos primeiros minutos, me senti entediado. O filme possui uma narração chata, pouco empolgante, que acrescenta pouco à trama. As atuações dos protagonistas não são convincentes, com a exceção de Cliff Curtis (Avatar: o caminho das águas, Dia de Treinamento, Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw, entre outros filmes de destaque), este sim muito bem no papel de caçador mais experiente da tribo de D’Leh.
Nos primeiros 15 minutos do filme, os caçadores da tribo de D’Leh, atormentados pela falta de mamutes, sua principal presa (e alimento), encontram uma nova oportunidade de caça. A forma como eles conduzem essa caça é desastrosa, cheio de atrapalhadas e contando com a sorte para o desfecho positivo. OK, talvez eu esteja sendo muito crítico, afinal, não dá para esperar táticas e estratégias avançadas para um povo que habitava a Terra em 10.000 a.C. O ponto é que não foi uma cena de ação legal de ver. Por um lado, não empolga, por outro, não dá para dar risada, enfim, achei a cena, como foi feita, sem propósito . O conflito maior vem logo depois, fruto de uma decisão no mínimo estranha, que acentua a vocação pateta do protagonista. A partir dali começa a jornada do herói em busca de salvar sua amada e os homens de sua tribo.
Apesar da capa e do baner do filme apresentar o confronto de D’Leh contra um enorme tigre dente-de-sabre, ele aparece, no máximo, em 3 minutos do filme, mais uma vez com a sorte ajudando o protagonista. Pitadas de drama meio forçado quanto ao pai do protagonista também fazem parte da trama em diferentes pontos do filme. Sabe aqueles discursos que líderes fazem na frente de seus exércitos? D’Leh manda mal.
Enfim, filme fraco.
Pontos Positivos
O filme também não é horroroso, daqueles que não acrescenta absolutamente nada e representa uma grande perda de tempo. Em termos históricos, ele representa bem o período em dois pontos:
- A tribo de D’Leh, bem como as outras tribos que ele encontra ao longo de sua jornada, correspondem ao que tínhamos na época, grupos nomades que mudavam de local em busca de caça.
- Ao final do filme, temos um marco bem importante da história das civilizações: o início da agricultura, que passaria a ser usada além da caça como forma de obter alimento. Com plantações, a fixação de grupos em determinados espaços de terra começou e, com isso, permitiu agrupamentos maiores que posteriormente viraram as primeiras cidades e civilizações.
Fora isso, como já destaque acima, a atuação de Cliff Curtis é interessante. Nada fora do comum, mas para mim é nítido que ele interpreta melhor que os demais.
Por fim, o filme foi bem em termos comerciais. Custou por volta de 100 milhões de dólares e arrecadou quase o triplo, resultando em um ótimo lucro.
Notas do filme 10.000 a.C.
Entretenimento: nenhum dos dois protagonistas (D’Leh e Evolet) são ótimos na arte da interpretação, o que gera pouco carisma e identificação com os personagens. Apesar de ser um filme épico, focado em feitos heróicos, dois grandes atos vencedores do protagonista D’Leh são frutos da sorte, o que dá um ar de “herói por acaso”. Soma-se a isso os equívicos históricos de um filme que se chama 10.000 a.C. e temos uma tempestade perfeito neste quesito. Dessa forma, o filme não é envolvente, seja pelas trapalhadas do protagonista, pelo seu pouco carisma ou pelas imprecisões históricas. Nota 4/10.
Inteligência: em nenhum momento do filme, ou talvez em apenas um momento ou dois momentos, o protagonista usa de inteligência para superar alguma situação adversa. O roteiro também não traz nenhum elemento que recompense expectadores mais inteligentes, permitindo a eles notar alguma grande sacada do filme. Nota 3/10.
Previsibilidade: o filme, desde seu início, mantém uma narração do presente e do futuro previsto pela anciã da tribo. Isso adiciona previsibilidade a ele e o deixa tedioso, sendo pouco envolvente. De forma resumida, ele é muito previsível na maior parte do tempo, apesar de algumas poucas exceções. Nota 5/10.
Áudio-visual: fotografias bonitas, computação gráfica ora bem feita, ora duvidosa, e sem destaques para trilha sonora ou efeitos sonoros. Figurinhos OK (pois alguns personagens estão nitidamente descaracterizados para a época), o que resulta em uma nota apenas OK também aqui. Nota 5/10.
Nota final: 4.25.
Ficha Técnica
Título: 10.000 a.C.
Título original: 10.000 BC
Duração: 1h49m
Ano de lançamento: 2008
Gêneros: Aventura e Ação
Dirigido por: Roland Emmerich
Elenco: Steven Strait (D’Leh), Camilla Belle (Evolet) e Cliff Curtis (Tic’Tic).
Custo / Faturamento: U$ 105 milhões / U$ 270 milhões